No meu estágio, que está a decorrer num serviço de Urgências, encontro muitas pessoas idosas; algo completamente normal tendo em conta que à medida que vamos avançando na idade vamos ficando mais fragilizados e mais susceptíveis a doenças.
Desde o início do curso que gosto de trabalhar com os velhinhos (e perdoem-me aqueles que acham este termo pejorativo, para mim é carinhoso). Gosto especialmente daqueles velhinhos catitas que falam muito e que nos contam muitas histórias dos seus tempos de juventude. Quase sempre são histórias repletas de sofrimento, pobreza e resiliência e eu aprendo muito com elas.
Acho que devemos dar o nosso tempo a estas pessoas. Elas já cresceram, já viveram, já lutaram contra todas as adversidades e superaram. Agora, é tempo de serem ouvidas e acarinhadas.
Mas não é isto que encontro nos hospitais. Vejo velhinhos que são literalmente abandonados pelas famílias; esquecidos por aqueles que cuidaram, em tempos.
Há uma velhinha que passa os dias a pedir-me para a deixar ir embora. Não quer estar ali, quer ir para a sua casinha, voltar para o seu cantinho. Não pede mais nada.
E eu não a posso ajudar, a pouca família não tem tempo para cuidar dela e ela permanece ali, numa cama que desconhece e sem poder ter nada seu. Apenas possui um terço que agarra fervorosamente para pedir a Nossa Senhora que a ajude. Espero que seja ouvida.
É completamente surreal o que se passa na nossa sociedade. Que tipo de pessoas somos? A que tipo de famílias pertencemos para não nos importarmos com quem nos deu colo? Com quem nos levantou quando caímos da bicicleta? Com quem fez o nosso prato favorito?
Não compreendo.