segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A velhinha

No meu estágio, que está a decorrer num serviço de Urgências, encontro muitas pessoas idosas; algo completamente normal tendo em conta que à medida que vamos avançando na idade vamos ficando mais fragilizados e mais susceptíveis a doenças.
Desde o início do curso que gosto de trabalhar com os velhinhos (e perdoem-me aqueles que acham este termo pejorativo, para mim é carinhoso). Gosto especialmente daqueles velhinhos catitas que falam muito e que nos contam muitas histórias dos seus tempos de juventude. Quase sempre são histórias repletas de sofrimento, pobreza e resiliência e eu aprendo muito com elas.
Acho que devemos dar o nosso tempo a estas pessoas. Elas já cresceram, já viveram, já lutaram contra todas as adversidades e superaram. Agora, é tempo de serem ouvidas e acarinhadas.
Mas não é isto que encontro nos hospitais. Vejo velhinhos que são literalmente abandonados pelas famílias; esquecidos por aqueles que cuidaram, em tempos.
Há uma velhinha que passa os dias a pedir-me para a deixar ir embora. Não quer estar ali, quer ir para a sua casinha, voltar para o seu cantinho. Não pede mais nada.
E eu não a posso ajudar, a pouca família não tem tempo para cuidar dela e ela permanece ali, numa cama que desconhece e sem poder ter nada seu. Apenas possui um terço que agarra fervorosamente para pedir a Nossa Senhora que a ajude. Espero que seja ouvida.
É completamente surreal o que se passa na nossa sociedade. Que tipo de pessoas somos? A que tipo de famílias pertencemos para não nos importarmos com quem nos deu colo? Com quem nos levantou quando caímos da bicicleta? Com quem fez o nosso prato favorito?

Não compreendo.

sábado, 15 de janeiro de 2011

O mendigo e o Cão


Na minha cidade vagueia um mendigo pela rua mais movimentada. Aquele tipo de rua onde as pessoas parecem correr em vez de andar; algo que não percebo visto o nome da rua ser “Rua das Montras”. É raríssimo ver pessoas paradas a perscrutar as ditas vitrinas que tanto trabalho dão aos lojistas.
Bem, mas não é de montras ou de pessoas que correm sem destino que vos quero falar. O meu assunto hoje é o Cão. O tal mendigo tem um companheiro de quatro patas que o acompanha diariamente nas suas jornadas ao longo da rua. O homem, que certamente é jovem na idade e velho na solidão, escolhe um cantinho e senta-se para encher a rua com a melodia da sua simples flauta.
Gosto de passar na rua e de o ver. Traz-me algum conforto ver que contínua ali, que não foi agredido, que não está mais magro ou que não morreu. Pode não ter muito sentido, mas é a verdade.
Mas o que me fascina é o Cão, que muitas vezes descansa a sua cabeça no colo do dono, numa atitude de aceitação pelo seu destino. Nunca encontrei o mendigo sem o seu companheiro. O Cão deita-se e espera pacientemente que o seu amigo ganhe dinheiro suficiente para uma refeição. Não se levanta, não vai explorar as redondezas, não procura companhia da sua espécie. Permanece imóvel, fiel.
O mendigo precisa dele e ele precisa do mendigo. O Cão precisa de alimento e carinho. O mendigo precisa de protecção e companhia.  É bonito. Talvez a amizade e a simbiose que une aqueles dois seres componha a montra mais bonita da rua, pelo menos na minha opinião.
Mas se assim não for aquela união constitui, certamente, a montra mais verdadeira.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011