segunda-feira, 30 de julho de 2012

"Uma vocação dentro da vocação"



A irmã Marta Alves, de 38 anos, testemunha ser chamada a “viver o tempo de doença em comunhão com as pessoas doentes e não doentes”. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, esta religiosa Serva de Nossa Senhora de Fátima, natural de Turquel, convive com um cancro que, embora terminal, não retira o sorriso a quem vive a alegria de uma entrega diária a Deus.
(...)

Por vezes, Deus coloca desafios ao ser humano que o ‘obrigam’ a colocar a própria vida nas Suas mãos. A irmã Marta tem vindo a fazer ao longo dos últimos tempos um caminho neste sentido. Como tem sido a sua experiência de convivência com a doença?
Eu fiz um périplo na minha vida como irmã. Estive em Coimbra a terminar os estudos, depois estive na Amareleja, no Alentejo, passei por Bruxelas e desde o final do ano de 2010 que estou em Portugal. Passado pouco tempo foi-me detectado um cancro da mama. Como é óbvio, não estava nada à espera, e foi, por isso, uma surpresa! Mas nós, irmãs, desde o início que vemos aí a mão de Deus, porque eu não estava para vir para Portugal mas para Moçambique. Já tinha o passaporte e estava tudo orientado para ir para África. Mas, por várias circunstâncias da Congregação, fui chamada a Portugal. Por isso, vemos aí a mão de Deus porque, provavelmente, em Moçambique seria mais complicado fazer o diagnóstico e, ao chegar lá, não iria logo ao médico. Este cancro foi diagnosticado no dia 13 de Maio do ano passado, e comecei a fazer quimioterapia no dia 28 de Junho. Fui operada, fiz uma mastectomia em Novembro, a seguir radioterapia, e quando já esperávamos que estivesse tudo mais ou menos em ordem, passado pouco tempo, percebemos que estava com metástases ósseas e hepáticas. Eu sei que não terei muito tempo de vida. Como é que eu vivo isso? Desde o princípio não foi propriamente uma má notícia! Deixou-me um nervoso miudinho, claro. Mas eu encarei esta doença na perspectiva de que nós, irmãs, vivemos a vida comum das pessoas. E faz parte estar doente. Como irmã, é quase uma vocação dentro da minha vocação, que é a de partilhar a vida real de muitos pais e de muitas mães. Por isso, não foi propriamente uma má notícia. É claro que é complicado quando nos confrontamos com a quimioterapia... Eu sou seguida no IPO de Lisboa e são muitas pessoas, de todas as idades, que vemos todos os dias. Daí dizer que é uma maneira de viver a vida normal.

Por vezes, quando há o confronto com a doença, a tentação é a da revolta...
Revoltar-me nunca foi uma tentação que eu tivesse. A nossa vida está nas mãos de Deus, e Ele, melhor do que nós, sabe o que é bom. À partida, uma doença em si mesmo não é boa. Porém, estas coisas, não sabemos medi-las. Não sabemos o que é bom ou o que é mau. É melhor estar doente ou ter saúde? Pois, em princípio é melhor ter saúde, mas mais importante que a saúde é muitas outras coisas: a paz, a alegria, a partilha, a amizade… Não! Eu nunca me revoltei contra Deus! Até pelo contrário, penso e a minha fé diz-me isso, que Deus está muito presente nesta minha situação como em toda a nossa vida normal de todos os dias.Este é um tempo de missão?Sim! Sou chamada a viver este tempo de doença em comunhão com as pessoas doentes e não doentes, em Igreja, vivendo a minha vida oferecida a Deus, tal como já estava anteriormente…

Nunca perdeu a alegria que tem?
Não! E reconheço que é de facto um dom de Deus.

O que diria a quem vive neste momento a mesma situação de doença?
Cada pessoa terá de fazer o seu próprio caminho. A doença faz parte da vida e todos somos um bocadinho doentes, até mesmo das relações, o que é bem pior! Mas a vida é possível e há coisas bem mais importantes do que ter saúde. Muitas vezes, na doença, vivemos etapas muito interessantes da vida que envolvem mesmo as pessoas que vivem ao nosso redor, manifestando muita proximidade.

Uma mensagem
“Há uma frase da nossa fundadora, Luíza Andaluz, que utilizamos muito e que nos toca particularmente: ‘Passar fazendo o bem à imitação do Mestre Divino, tornar felizes aqueles que nos rodeiam, que doce programa de vida!’”.

Este testemunho tocou-me bastante. A doença que é relatada é, infelizmente, muito familiar para mim. O sofrimento do doente e da família é gigantesco e pergunto-me como é que uma pessoa é capaz de olhar para ele como uma forma de continuar a ajudar os outros e a ser testemunho de Fé. É quase impossível conseguir ter-se tão bons sentimentos!! É quase impossível não haver revolta!! Mas esta irmã consegue manter a sua paz e consegue ser um apoio para outros doentes... acho espantoso, isto sim é ser nobre de espírito.




































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